Sejam bem vindos ao blog da Fonoaudióloga Daniella Caropreso


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segunda-feira, 6 de outubro de 2008


Sono e Qualidade de Vida sob o Aspecto Fonoaudiológico

O que o sono tem a ver com a qualidade de vida? Muitos fazem esta indagação.
Estudos sobre os distúrbios respiratórios do sono, ronco e apnéia do sono têm-se tornado imperativo nos dias atuais, uma vez que esses problemas estão se tornando cada vez mais comuns na população e suas conseqüências prejudicando a qualidade de vida do indivíduo.
Se pensarmos que a respiração é um processo vital para o bom funcionamento do organismo, pois fornece oxigênio necessário às células de todo o corpo para que ele realize os processos metabólicos que resultam em energia, imaginemos algum distúrbio que quebre este processo.
A respiração influencia diretamente na qualidade de vida do homem e se esta não ocorre adequadamente, podem surgir alterações orgânicas e funcionais no organismo que modificam o estilo de vida do indivíduo.

Burger, Caixeta e Di Ninno (2004), realizaram uma pesquisa com o objetivo de analisar a relação da apnéia do sono, ronco e respiração oral em indivíduos adultos, onde aplicaram um questionário em 45 pacientes adultos, de ambos os sexos, com perguntas sobre o modo de respiração. Dos 45 indivíduos, 76% relataram serem respiradores orais ou mistos. Desses, 77% apresentaram índice de apnéia/hipopnéia alterado, enquanto que dentre os respiradores nasais, apenas 18% possuíam alterações.
Problemas mecânicos e funcionais na passagem do ar pelas vias aéreas superiores desencadeiam mudanças no processo respiratório, como por exemplo, a diminuição da captação de oxigênio e a baixa oxigenação cerebral. Estes por sua vez propiciam alterações corporais e psicológicas que se iniciam na infância (ARAGÃO, 1988; SÁ FILHO, 1994).
Sob o aspecto da fonoaudiologia, quero com este artigo, demonstrar a importância do aleitamento materno para a manutenção do padrão respiratório nasal.
Carvalho (2003) relata que as crianças respiradoras orais apresentaram um menor período de aleitamento materno e um histórico de hábitos orais presentes comparados às crianças respiradoras nasais. Hábitos deletérios são aqueles onde a criança busca na chupeta, dedo e mamadeira, suprir a sucção natural, realizada no momento da “ordenha” do peito materno.
Trawitzki; Anselmo-Lima; Melchior; Grechi e Valera (2005) consideram o leite materno o melhor alimento para o recém-nascido e destacaram a importância da amamentação exclusiva nos seis primeiros meses de vida. Enfatizam os benefícios nutricionais, imunológicos e emocionais, o qual promove a saúde do sistema estomatognático (Funções de sucção, deglutição, mastigação, respiração e fala), propicia o correto estabelecimento da respiração nasal e o desenvolvimento normal de todo o complexo craniofacial.
Vieira, Almeida, Silva e Cabral (2204) relatam que a ausência do aleitamento materno está associada à intolerância ao leite de vaca e a riscos de contrair doenças como infecções respiratórias e diarréicas. No estudo de Engel et al. com 250 crianças de zero a dois anos de idade, a amamentação foi significativamente associada com a prevalência de otite média, sugerindo que a amamentação prolongada previne tal patologia.
Neiva, Cattoni, Ramos e Isler (2003) enfatizam que o desmame precoce e a introdução de aleitamento não-materno e/ou outros alimentos "substitutivos", favorece a instalação de hábitos orais deletérios de sucção, como a sucção digital e/ou chupeta e hábitos de mordida, como o bruxismo, briquismo, morder objetos, lábios e onicofagia.
A presença de hábitos orais deletérios pode comprometer o equilíbrio da neuromusculatura orofacial, o crescimento craniofacial e propiciar alterações oclusais dependendo do período, da intensidade e da freqüência do hábito. Pode-se observar na literatura o interesse pelas relações entre forma de aleitamento, desenvolvimento de hábitos orais deletérios, da oclusão dentária e das funções orofaciais. Alguns autores relacionam, ainda, os hábitos orais com o padrão respiratório, principalmente os hábitos de mordida, entre eles o bruxismo.
A criança que mama no peito, vai se cansar, gastar energia, irá transpirar e terá, principalmente, a satisfação de estar junto da mãe. Não satisfeitas todas essas necessidades ela terá, muitas vezes, que continuar a sua sucção, gerando assim os hábitos bucais.Um dos hábitos mais freqüentes e que em geral nem é considerado um hábito é a própria mamadeira. A criança que mama na mamadeira não precisa exercer muita pressão para sugar (mesmo quando o furo do bico é pequeno), por isso pode mamar com a boca semi aberta, o que faz com que ela perca o selamento labial, podendo trazer como conseqüência a respiração bucal.

Causas para a Respiração Oral:

1) Causas Obstrutivas: Rinites, Hipertrofia de cornetos, trauma nasal, desvio de septo, hipertrofia adenoamigdaliana, malformações nasais, polipose nasal, tumores da cavidade nasal e rinofaringe, hipertrofia de tonsilas palatinas e tonsilas faríngeas.
2) Causas Não Obstrutivas: Hábito, Malformações Craniofaciais.

Características do Respirador Oral:
Queixas:
  • Falta de ar ou insuficiência respiratória
  • Cansaço rápido nas atividades físicas
  • Dor nas costas ou musculatura do pescoço
  • Diminuição do olfato e/ou paladar
  • Halitose
  • Boca seca
  • Acordar muito durante a noite engasgado
  • Dormir mal
  • Sono durante o dia
  • Olheiras
  • Espirrar saliva ao falar
  • Dificuldades em realizar exercícios físicos
Alterações encontradas em Respiradores Orais:
  • Alterações Crânio-Faciais e Dentárias
  • Alterações dos Órgãos FonoarticulatóriosAlterações Corporais
  • Alterações das Funções Orais

Outras Alterações Possíveis:
  • Sinusites freqüentes, otites de repetição
  • Aumento das amigdalas faríngea e palatinas
  • Halitose e diminuição da percepação do paladar e olfato
  • Maior incidência de cáries
  • Alteração do sono, ronco, apnéia, baba noturna, insônia, expressão facial vaga;
  • Redução do apetite, alterações gástricas, sede constante, engasgos, palidez, inapetência, perda de peso com menor desenvolvimento físico ou obesidade;
  • Menor rendimento físico, incoordenação global com cansaço freqüente;
  • Agitação, ansiedade, impaciência, impulsividade e desânimo
  • Dificuldades de atenção e concentração, gerando dificuldades escolares.
Tratamento Multidisciplinar

O tratamento é multidisciplinar, incluindo o Otorrinolaringologista, Fonoaudiólogo, Fisioterapeuta, Psicólogo, Endocrinologista, Educador Físico e Dentista, pois as alterações e queixas abrangem todas as áreas.
O objetivo da classificação das queixas e alterações mais encontradas no respirador oral, é facilitar o diagnóstico e torná-lo mais preciso. O otorrinolaringologista irá diagnosticar a causa e prescrever o melhor tratamento; o ortodontista fará as correções dentárias necessárias, interceptando ou corrigindo a má-oclusão ou redirecionando o crescimento crânio-facial; o fisioterapeuta atuará com as alterações posturais; o fonoaudiólogo reeducará as funções alteradas assim como irá garantir através do treino e conscentização, o uso e a importância da respiração nasal; o endocrinologista tratará as causas da obesidade e o educador físico trabalhará na atividade física e manutenção do bom condicionamento físico.
É fundamental que todos os que trabalham com o “Respirador Oral” conheçam o que cada profissional das outras áreas pode fazer pelo paciente e que o tratamento multidisciplinar pode atingir de forma mais ampla as alterações encontradas neste tipo de paciente. Desta forma há menos recidivas e os encaminhamentos mais direcionados.

Tratamento Fonoaudiológico

  • Conscientização do problema
  • Mostrar a forma e função existentes
  • Adequar a função respiratória próxima da normalidade
  • Melhorar a postura corporal
  • Trabalhar tônus e postura de lábios e língua
  • Adequar mastigação, deglutição e fala quando necessário.

Conclusão

O tratamento do respirador oral deve ser focado na orientação e prevenção, pois iremos atuar na causalidade, impedindo grandes problemas futuros, diagnósticos precoces aos pacientes já portadores de respiração oral. Devemos ter em mente que os distúrbios do sono, dentre eles a Síndrome da Apnéia Obstrutiva do Sono (SAOS) é uma doença crônica, progressiva, incapacitante, com alta mortalidade e morbidade cardiovascular.
Como profissionais da saúde é fundamental sabermos que uma alteração de sono pode ser o fator chave para descobrirmos um indivíduo que é respirador oral, que tenha distúrbios relacionados ao sono e com isso realizarmos um tratamento multi e interdisciplinar, buscando qualidade de vida a este paciente e à sua família.

Daniella Caropreso – CRFa 8977/SP

Um comentário:

Unknown disse...

Gostei do seu blog. Você está lindinha na foto. Quem é a menina?
Saudades.
Valéria